quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Palavras e suspiros e Dom Casmurro

Conversando com um amigo esses dias, trocando figurinhas a respeito da construção do meu blog, ele sugeriu que eu colocasse textos mais atuais e deixasse de ser, diríamos, tão melancólico, no bom sentido da palavra. Disse-me que o que escrevo ta muito bom, mas que gostaria de ler contos que falem do nosso dia a dia, do presente. Concordei. No entanto, digo que não somos feitos só do presente, mas de passado e futuro. O passado nos dá a exata noção de tudo. Do tempo que corre cada vez mais depressa como se fugisse de alguma coisa, do envelhecer, do crescimento, amadurecimento. Das lembranças, as boas e as nem tão boas assim. Não se pode fechar os olhos, com ar de indiferença, para essa conjugação verbal que se apodera de tudo. Seria inútil. É inútil. Nessa tentativa, teríamos que rasgar todas as fotos, quebrar todos os porta-retratos, usar uma borracha para apagar as memórias. Ainda assim, seria inútil. Passado tem cheiro, cor, vibração, vida própria. O blog tem essa intenção mesmo, de ser essa memória, de registrar ou de se fazer lembrar, não deixando, no entanto, de trazer coisas atuais, novas, nem mesmo de lançar olhares para o fututo, belo, incerto e atraente. Palavras e suspiros é isso. É o todo, mas que pode ser um instante, um sorriso. É um lugarzinho que criei para me reinventar. Como se pode ler em Dom Casmurro, obra de Machado de Assis, "Para preencher a vida pacata, Dom Casmurro resolve contar suas lembranças, isto é, atar as duas pontas da vida, a adolescência e a maturidade.

domingo, 23 de novembro de 2008

"Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas"

O som vinha de longe, mais precisamente da Capital do Brasil. "Será só imaginação, será que nada vai acontecer, será que é tudo isso em vão, será que vamos conseguir vencer". Bravo! Era o que gritava em mim por dentro quando escutava as músicas da Legião Urbana pela primeira vez. Parecia que eu estava ali, em forma de poesia, falando das minhas incertezas, angústias, alegrias, dos meus amores platônicos, da política suja, da solidão que assusta e que, ao mesmo tempo, nos fortalece. "Quero ter alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim, nada mais vai me ferir...". Corri numa loja de discos, sim, porque ainda não existiam CDs, DVDs, e garanti logo o meu vinil. A música unia. Intermediava o diálogo e parecia facilitar os desejos incomunicáveis. "Tenho andado distraído, impaciente e indeciso". Era mágico. Despertava sentidos adormecidos ou desconhecidos. Identificava. Cada um, antes isolado com suas dores, queixas, dúvidas, deixou de ser sozinho, e passa a enxergar-se, de certa forma, no outro que também quer romper o silêncio, falar, gritar. "Que país é esse, que país é esse?", ecoava pelo país afora. Tornou-se um hino. Era a voz que não mais silenciava. Não mais sufocada. O país se conhecia. Se indginava. Mas não era só isso não. Cada um começa a exercer sua liberdade. Antes desconhecida ou violentada. Liberdade em todos os sentidos. "Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você, não é me dominando assim que você vai me convencer". Liberdade que se espalha por todos as salas interiores ou não. "De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver." Música que aproxima os olhares. Onde a paixão se agita. Onde os corpos se encaixam. Onde o beijo se arrasta suave, lento, sem pressa. Onde há dores de cotovelo. Lágrimas. Saudade. "Mas tudo bem, tudo bem, tudo bemm... lá vem, lá vem de novo, acho que estou gostando de alguém e é de ti que não esquecerei". Tudo eternizado, se não na lembrança, na musicalidade dos sentimentos, esses sim, jamais se perderão ao longo do caminho. "Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo, temos todo o tempo do mundo, todos os dias antes de dormir lembro e esqueço como foi o dia".

sábado, 22 de novembro de 2008

Ser livre

Não, eu não tenho nenhum compromisso com a escrita. Definitivamente, não tenho e não quero. Nem com você, meu caro leitor, que eventualmente passa por aqui à procura de sensações. Não. Isso faria com que eu perdesse a minha melhor parte, a liberdade. E a liberdade é o que tenho de melhor quando escrevo. A liberdade é a minha combustão para a fantasia. É o que me faz enxergar, ainda que me leve a lugares dolorosos. Conheço muitos que se aprisionaram e se tornaram, excessivamente, cansativos. Os seus segredos passaram a ser copiados como frases feitas, apenas. Não, eu não posso ser assim. Prefiro a insignificância dos meus atos, o anônimato das minhas palavras, a invisibilidade dos que não me vêem. Escrever é a minha salvação. Escrevo para me libertar.

"Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial". Virginia Woolf.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Hora da Estrela

Todo mundo, ou quase todo mundo, sabe que o romance "A Hora da Estrela", é uma das obras notáveis de Clarice Lispector. Quem ja leu, reconhece ali, uma pérola da nossa literatura, tamanha riqueza de detalhes e "traje" psicológico da personagem Macabéa. "É uma história de uma moça tão pobre que só comia cachorro-quente. Mas a história não é só isso não! É uma história de uma inocência pisada, de uma miséria anônima", revela Clarice. Macabéa, é uma mulher comum, feia, doente, mas que tem um grande sonho, o de ser Marilyn Monroe. Uma história apaixonante. Que deixa gravado na memória falas e imagens indissolúveis no tempo. Falando nisso, me veio em mente umas das cenas de A Hora da Estrela. Macabéa compra um batom vermelho e se tranca no banheiro da firma onde trabalha e se pinta. Há aqui o desejo de ser como as estrelas de cinema. Mas a película é muito mais que isso. O tempo passa e o livro vira filme. Adaptado para o cinema, com a direção de Suzana Amaral, o romance se tansporta para as telas cinematográficas, é bem aceito pela crítica, premiando a atriz, paraibana, Marcélia Cartaxo, com o Urso de Prata no festival de Berlim, na Alemanha. O cinema brasileiro é bom e de qualidade. Também quero dizer que esses dias participei de um seminário aqui em Brasília sobre Cinema e Literaturas, cujo tema central foi a obra de Clarice, mais precisamente, a personagem Macabéa. Entre os convidados estava a cineasta Suzana Amaral. Uma mulher que me lembrou a persongem do filme. Meio franzina, de baixa estatura, aparentemente frágil e que parece guardar em si uma certa inocência, a mesma inocência que se escondia em Macabéa. Sentada à mesa, ela, Suzana, toda silenciosa, observava apenas. Mas de uma coisa eu sei, que ela e Macabéa são bem diferentes. A grande diferença está em uma ser anti-heroína e a outra não. Fazer cinema no Brasil é fazer papel de um herói. E para mim, Suzana é. Pelos motivos que todos nós conhecemos. Eu, sentado na plateia, encantava-me com aquela mulher de voz meio grave, quase rouca, ora sem força, ora estridente quando a boca aproximava-se do microfone. Surpreendia-me diante daquela mulher que crescia à medida que falava. Rompia o silêncio com frases engraçadas e hábeis. Ela foi, aos poucos, tomando conta da sala, preenchendo cada espaço vazio. Se revelando como se quisesse ser uma personagem de Clarice. E era. Era uma personagem ainda em construção, alegrando-sem em seu tempo. Uma mulher que corria pelos anos, contando suas histórias, suas escolhas, sua trajetória como pesquisadora, como cineasta, como mulher. E fez daquele momento, pelo menos para mim, a sua A Hora da Estrela.

sábado, 8 de novembro de 2008

Ainda lembro

Saudades todos nós sentimos. Seja ela qual for e como for ou de quem for. Saudades da infância, das travessuras, dos primeiros amigos de verdade, é um tipo de saudade, eu diria, que não dói, ela vem e repousa na frágil memória como uma folha que cai suavemente do galho e se acomoda no chão. E mais uma cai e mais outra... Às vezes numa dessas horas sem ter o que fazer me pego pensando em amigos que não vejo há muitos anos, em tempos que, hoje, existem só na lembrança. Ai vem aquela sensação ou o desejo de como seria bom se pudéssemos voltar no tempo. Recordar é reviver. Me lembro nesse momento, de uma mulher que passava pela minha rua no final da tarde puxando alfinin. Como ela era esperada! Alfinin, pra quem não conhece, é um tipo de doce feito do mel da cana-de-açúcar misturado a outros ingredientes. Uma delícia! Também me recordo de um senhor que passava vendendo quebra-queixo, uma espécie de cocada ou sei lá o que, que de tão liguento, grudava nos dentes. Do algodão-doce. Dos suspiros. Das castanhas. E de um cordão de côcos que o vendedor trazia pendurados no pescoço. E nós lá, comíamos tudo, sem se preocupar com higiene ou coisas parecida. Das chuvas também no final da tarde. Ficávamos todos numa inquietação só, dentro de casa só esperando um sinal positivo dos pais pra cair na rua. Era uma farra. Das brincadeiras de "guerra-guerriou", "peinha-queimada", "barra-bandeira", "sete-pecados", de se "esconder", entre tantas outras. Meu Deus, parece que foi ontem. Das reuniões intermináveis que começavam logo ao cair da noite. Como tínhamos assunto! Das aventuras em subir morro, casas em construção, brincando de "é ingancho", brincadeira que se dava em fazer uma determinada coisa em que todos tinham que repetir, se não era taxado de mole, de "mulher do padre" e por ai vai. Um bando de moleque que se divertia apenas em estar na companhia da sua turma, com suas fofocas, conversas, piadas. Uma infância cheia de meninice e que guardo como um tesouro de pirata. Ainda lembro.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Música para ouvir

Um calor sufocante. O tempo parado. O vento quase não sacode as folhas das árvores numa manhã de sol que convida a nadar. Quase nada pra fazer. Uma rotina que beira o tédio. Mas sempre há mais para conhecer, bisbilhotar, pesquisar, ler. Numa dessas tentativas de redirecionar o olhar sobre as coisas, de acalmar em mim o tédio que cresce com as horas, ligo o computador, ainda bem que existe um remédio anti-monotonia, como dizia o poeta, seja ele qual for, e na tentativa de preencher a ausência do que fazer, viajo entre blogs de poetas, escritores, atores e por ai vai. Acabo por me entreter com o do Zeca Camargo. Leio seus posts. Escreve bem e isso me agrada. Num de seus textos publicados, me deparo com uma lista das "mil músicas mais importantes", pra ele. Bateu uma curiosidade. Começei a procurar no google uma por uma. Também comecei a ouvir e, confesso, gostei do seu gosto musical. Muitas delas não caberiam na minha lista das mais importantes, talvez por não conhecê-las ou por, decididamente, não fazerem parte da minha trilha sonora. Algumas bem familiares. Visceral eu diria. Outras nem tanto. De qualquer forma, esta sendo um belo passeio. Devo me demorar nessa "gastronomia musical". Um passeio que agrada, principlamente, aos meus ouvidos, cheios de silêncio numa manhã aparentemente infértil.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Meninice

Nada como nadar num rio, pelado e com a inteira liberdade dos peixes. E essa liberdade vinha com o inverno. Eram outros tempos. Tempos memoráveis. Ser criança era guardar a magia dos segredos e da inocência. E os segredos se multiplicavam durante as chuvas e enchentes que sempre traziam consigo, além da esperança espalhada pelos pastos, a alegria estampada nos olhos. O nosso melhor segredo, corria por debaixo da ponte e por cima dela, trens carregavam sonhos. Digo nosso, porque dividia com mais meia dúzias de amigos e primos. Lembro que o tempo se preparava, mudava de cor. Ventos anunciavam a chegada de muita chuva. Era o inverno que nascia de nuvens carregadas e de relâmpagos nervosos. Cheio de ansiedade, ficava deitado na rede escutando a chuva batendo no telhado. Desejava chover a noite toda e por vários dias. E esse desejo tinha uma explicação: ver o rio ser rio novamente, porque com a estiagem ou a seca, o rio mais parecia um corte na terra. Uma rachadura. Uma ausência. Após dias e dias de muita chuva, tudo se transformava. A natureza respirava aliviada. Os bichos mudavam de humor. E o povo caminhava mais corajosamente. Eu, me reunia com a mulecada e, às escondidas, ia partilhar alegrias. Corria para o rio. Nadava incansávelmente. Subia na ponte e pulava na água. Repetia o mesmo ato inúmeras vezes, antes que o rio se fosse novamente. Antes que aquela veia d'água, voltasse a ser um espaço vazio e uma ausência sem nome, que só entende quem vive em terras cheias de cicatrizes.

Aos amigos

Esses dias, numa noite chuvosa e meio fria, estava eu aqui em casa "navegando" pela Internet. Nada pra fazer e um outro monte de coisas pra terminar, entrava e saia de sites da web sem pedir licença. Sem pedir licença também, entrava e saia de páginas e mais páginas de amigos no Orkut. Uns que vejo frequentemente, outros nem tanto. E mais um montão deles que não vejo há tempos, mas todos bem próximos. Cada um deles com suas particularidades, claro, como todo bom ser humano. Eu me identifico em alguns, me surpreendo com outros e me espanto com vários. Nada de mais. Vejo em todos uma vontade de acertar. Os esforços, as lutas, as decepções, os medos, as conquistas, a alegria, o sofrimento... são uma constante. Essa riqueza de emoções acompanham o ser humano desde sempre e os fazem ser admiráveis. Há um encantamento. Há sensibilidade, solidão, companheirismo, atitude e, acima de tudo, há generosidade em cada um. Os amigos são parte de nós, algumas mais acabadas, mais elaboradas. Por isso a admiração. Mas nós também somos a parte do outro inacabado. Podemos ser o perdão, a graciosidade, a fé, a esperança, a caridade, a compaixão. De certa forma, vamos nos completando e nos enxergando na vida do outro. Bom ter amigos, bom ser amigo.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O mar

Depois de viajar mais de 8 horas, numa estrada que parecia não ter fim, eis que chegamos ao nosso destino, a cidade de Salvador. Não fosse um dia ensolarado e de um calor sufocante, as sensações teriam sido melhor percebidas em mim. A cidade parecia calma. Eu, porém, agitado, lembro-me perfeitamente como olhei para o infinito, ao mesmo tempo em que passeava com os olhos por todos os becos e ruas, a procura do que não mais podia se esconder. Tomava conta de mim uma inquietação que me fazia parecer demasiadamente cansado. E era na respiração ofegante que se escondia o meu desejo. E como eu desejava aquele momento. Tudo aconteceu sem eu esperar. Eu, absorto em devaneios e embriagado pela magia, deixava-me ser levado por todos os pensamentos. Preso, somente, por uma mão que parecia adivinhar a minha premeditada fuga. E num gesto que vacila, deixou-me escapar. No mesmo instante, as pernas agitaram-se. O peito se encheu de ar. E lá estava eu, farejando o que vinha não sabia de onde. Até que de repente, lá estava ele, todo inteiro na minha frente. Fiquei ali, parado, olhando. Tentando entender como quem procura entender as coisas um menino de 10 anos. Era o mar. Ainda posso ouvi-lo como da primeira vez. Posso sentir a brisa. O cheiro. Como era grande. E belo. E assustador. À minha cola, estava a minha irmã, tão assustada quanto eu. Num impulso que não cabia ali se quer um milésimo de tempo, tirei a camisa, tênis, dobrei as pernas da calça jeans e fui entrando devagarinho na água, numa espécie de ritual sagrado. E era. Pra mim era. Tateando com os pés o solo. Apoiando-me. Sentindo o seu temperamento. Ondas leves, que mais pareciam uma espécie de carinho. E depois, mergulhei por inteiro até me sentir purificado, como se o tempo todo que eu desejei estar ali tivesse sido apagado nas águas cheias de sal que arde os olhos e deixa a boca salgada. Aaah, o marrrrrrr!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Convite

Pode sentar-se. Chegue mais perto. É uma leitura rápida, simples. Não tem nenhum risco incalculável, mas uma sonoridade em cada palavra. Escute. Mas escute como se estivesse ouvindo uma cachoeira de águas cheias de mistérios. Mergulhe além do superficial. É ai onde tudo acontece. Arrisque-se. Entender ou não é o caminho. Só não me pergunte onde tudo isso vai dar. Porque eu não sei. Simplesmente vou desenrolando um novelo de lã e a cada minuto vai se revelando algo, não só pra você, mas também pra mim. As palavras tem mundos próprios, acredite. Nós somos a presa fácil e ninguém está imune. Não tem escolha, acontece. Torna-se um vício. Procure descobrir como eu também procuro. É isso. Fica o convite.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Parabéns Cajazeiras!

Todo mundo tem uma paixão secreta, acredito! Seja ela qual for. Mas sei também que todo mundo tem uma paixão explicitamente declarada. Hoje, sexta-feira, 22 de agosto pode ser, para algumas pessoas uma data comum, um dia sem nenhum brilho especial. Uma ou outra pessoa pode até puxar pela memória e ser pego de surpresa ao lembrar, ainda que de maneira atrasada, o aniversário de alguém. Eu, porém, vou mais longe, se me permitem. Vou voltar no tempo e arriscar algumas emoções. 22 de agosto é a data de aniversário da minha cidade natal, a minha amada Cajazeiras. "Terra que ensinou a Paraíba a ler". Cidade que viveu tempos memoráveis do cinema, onde olhos curiosos acompanhavam ansiosos o mundo que se descortinava frente às enormes telas do Cine Éden e do Cine Apolo XI. Ali, muitos se conheceram e, possivelmente, se apaixonaram, como se a vida quisesse imitar a arte. Cidade que tem, às margens do Açude Grande, um por do sol poético. Que Tem os famosos colégios Diocesano, Nossa Senhora de Lourdes e o Nossa Senhora do Carmo, Carmelita, como é chamado, e de educação rigorosa. Os colégios Estadual, Polivalente, Dom Moisés, Comercial. Tem a Catedral Nossa Senhora da Piedade e a Igreja Matriz, com sua pracinha de cidade de interior e um coreto melancólico e solitário, que nos faz voltar no tempo. Terra de gente católica, que tem como símbolo da fé um Cristo de braços abertos. Cajazeiras hoje deve estar em festa. Antes estaria. E era festa das grandes. Os desfiles em comemoração a sua fundação, eram verdadeiros motivos de grandes expectativas. Os ensaios das "bandas" de cada escola, se sucediam cansativos, mas cheios de entusiasmos. Cada um queria render sua homengaem à cidade. Numa das principais avenida da cidade que leva o nome de seu fundador, Padre Rolim, os dobrados emocionavam o público. Um amontoado de gente formava um verdadeiro corredor humano para ver o desfile passar. Alguns nem respiravam. Cada centímetro era disputadíssimo. E a cidade lá, acolhendo cada nota como homenagem. Cajazeiras dos festivais da canção, dos festivais de teatro, das semanas universitárias, dos jogos escolares. A cidade que tem como um dos cartões postal, a Praça João Pessoa, famosa por ter sido a rua onde todos se encontravam durante o final de semana e vivido ali os grandes carnavais. Cajazeiras do Tênis Clube. Da AABB. E como não poderia deixar de lembrar aqui, Cajazeiras das oiticicas, pedaço da cidade que adolescia com a sua juventude a cada final da manhã. Cajazeiras de tantas outras lembranças. Cajazeiras minha paixão!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Noite de estrelas

Um aboio ao longe marca o ritmo. Direciona o gado. Um olhar atento do vaqueiro. Parece tempo esquecidos pelo próprio tempo. Um mundo que só existe hoje pela força dos que não se rendem ao mundo civilizado. Pelos que não têm pressa. O nordeste, assim como qualquer outra região do país, tem uma paisagem bem peculiar. Quem bem conhece sabe. Sabe do que falei sobre o vaqueiro aboiador. Sabe dos pés de Juazeiro, dos Xiquexiques, dos Umbuzeiros, das Juremas espinhosas. Árvores que através de suas sombras, desenhadas pelo sol do meio-dia, registram sua existência no chão amarelado, de forma silenciosa. Sabe, também, do sertanejo e da sua luta diária incansável. Abatido pelo cansaço que o trabalho exige de si e pelo calor que exaure, encontra conforto à sombra de um Juazeiro, agradecido. Dois atores do mesmo ato, em dias que se seguem cheios de esperança. Uma pausa. Limpa o suor da testa com a mão calejada, olha ao redor, contemplando a paisagem tremula. Suspira. Recorda-se de como era tudo antes de chegar a indejesada visita da seca. Reconforta-se ainda mais no tronco da árvore. Sente-se seguro. Lá mais adiante, a mulher e os filhos, cumprem o ritual doméstico. Apressam-se em seus afazeres, como se o tempo realmente importasse. E suas vidas serão consumidas ali, no anonimato de suas existências. Sem dor nem resignação. O mundo para eles era aquilo. À noite, iluminados pelas estrelas e pela lua que observa a humanidade desde sempre, suspiram ao som de vaga-lumes e grilos histéricos, como quem, ao ouvido dos mais apurados, ouvem uma orquestra. O sono chega logo e com ele o descanso. Os sonhos povoados de um bom inverno, de uma boa colheita e de muita fartura, são interrompidos pelo cantar do galo que anuncia mais um dia. De novo, o mundo se descortina, o mundo deles, feito de silêncio e som. E aqui fora, no chamado mundo da civilização, a paz de sentar junto à sombra de uma árvore fica cada vez mais distante.

A coisa dita

Tenho sentido uma necessidade enorme de escrever mais e mais. Parece que quando começamos a invadir o mundo das palavras, irremediavelmente, elas, invadem também a nós, numa espécie de manifestação perturbadora. Enquanto não sentamos à mesa e começamos a escrever, instala-se uma inquietação, como se fosse algo orgânico. Um preço a se pagar. Escrever sempre me pareceu demasiadamente difícil. E ainda o é. Trata-se de atingir a perfeição em cada frase, de criar a sensação exata de cada coisa dita. Caso contrário, pura perda de tempo. Um desafio constante que tento controlar, como se fosse um cavalo indomável, naturalmente livre a correr pelos campos. E é ai onde não podemos deter, porque a beleza de um cavalo selvagem, está na sua liberdade.

Como diz padre Fábio de Melo:
"Eu sou um contador de histórias...
Gosto de me aventurar no universo das palavras,
gosto de vê-las clamando por minhas mãos,
desejosas de sairem da condição de silêncio.
Escrever é uma forma de desvendar o mundo".

Agradeço ao meu grande e estimado amigo Gastão, por fazer chegar às minhas mãos essas lindas e tantas outras palavras. Obrigado!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Superação

Chega a emocionar os esforços e a garra com que os nosso atletas disputam as Olimpíadas de Pequim. E aqui cabe todos, sem excessão! Ali estão anos de muita dedicação, luta, dias de treino, dificuldades e muito, muito talento. Talentos esses que não são, na grande maioria das vezes, incentivados, seja através de uma política de esportes por parte do próprio governo, seja por empresas privadas ou de capital misto, como meio de contribuição social, seja como lazer ou qualquer outra coisa que valha para que a trajetória a ser seguida seja mais uma peregrinação rumo ao sucesso, que uma rumo ao calvário. Todos esses atletas com suas exemplares histórias de luta são, para mim, ouros, diamantes. E suas conquistas vão muito além, muito além de qualquer premiação. Fico imaginando o dedicar-se de cada um deles. O turbilhão de emoção que toma conta de suas vidas. O dia a dia dos treinos, às vezes insuportavelmente cheios de sacrifícios. Me vejo em cada um deles, assim como deve acontecer com muitos outros milhões de brasileiros. Quando vencem, vencemos juntos, compartilhamos da mesma alegria. E quando perdem, nos sentimos verdadeiramente derrotados, como se fosse cada um de nós que estivesse lá, na disputa, no campo, na quadra, na pista, na água, nas barras assimétricas, no solo. Um espectáculo que cada um de nós assiste na esperança de que mais uma medalha seja conquistada, mas ela, antecipadamente, já o foi. As medalhas desses nosso atletas em Pequim, valem mais do que qualquer outra, são medalhas honrosas, feitas de luta, de paixão pelo esporte, de amor pelo nosso país que, injustamente, nem sempre os reconhece. São medalhas de superação. Pois em cada uma delas, também nós, estamos representados.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Borboleta II

Depois de um longo período de silêncio solitário que chegou a me incomodar, fui novamente surpreendido por mais uma invasão. Nesse espaço de tempo já havia esquecido completamente as cores que davam corpo à Borboleta que me apareceu do nada. Calei-me diante da sua nova visita. Me sentindo um pouco mais desconfortável que da primeira vez, percebi que era eu e não ela, que estava invadindo a sua intimidade. O mundo parecia pertencer mais a ela do que a mim, até mesmo o meu apartamento. Ela imóvel, fitava-me como se quisesse me questionar sobre a minha tamanha capacidade de guardar segredos. Continuei andando de um lado para outro do quarto, e ela lá, fotografando com seus olhos de realidade, o que ao seu redor acontecia. A cada movimento feito, ela acompanhava. Me sentia completamente desnudo por aquele inseto que de tão real e colorido se tornava uma espécie de vigia. E na sua mais absoluta incompreensão sobre a humanidade, por não ser humano, parecia compreender o significado de tudo. Parecia querer me revelar, em forma de segredo dos amantes, todos os seus, os mais íntimos. Foi quando eu, talvez num gesto de lucidez e medo, assustei-a, para que ela, agora já num voo licencioso, pudesse levar consigo, além dos mistérios e os segredos que guardava em as suas asas, o silêncio de quem vive a experimentar. Eu porém, preferi os meus, os segredos dos simples mortais!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Uma vez, um tamanco azul

Usando um pouco da Clarice que mora em mim, tenho o dever de revelar tudo que sinto ou vejo. Nessa fase de "memórias", a qual me encontro, como bem falou um amigo meu esses dias, tento buscar lá no passado coisas que me marcaram ou me deixaram, no mínimo, alguma impressão. Coisas que parecem inacabdas, mas que ainda se mostram bem vivas em mim. A história do tamanco azul é uma dessas memórias que não quer calar! Numa noite de pouca lua e com uma previsão de tempo nada tranquilizadora, estávamos todos nós, pais e irmãos, a fazer o que era de costume, ir passear na pequena vila onde moravam os nosso familiares, parentes e amigos. Isso era quase uma obrigação. Naquele tempo, meados dos anos 70, morando em uma pequena popriedade rural, as dificuldades eram muitas. Não tínhamos luz elétrica, nem água encanada, nem carro ou qualquer outra coisa que se assemelhasse à modernidade. E as dificuldades não paravam por ai. Pois bem, numa dessas noites depois de visitar toda a parentada, voltando pra casa, com um tempo já meio chuvoso e com trovoadas, caminhávamos a passos largos. Eu, pequeno, tentava, ainda que sem sucesso, alcançar meus pais e meus irmãos mais velhos que, apressadamente, iam me guiando na escuridão. Minha irmã mais nova, se protegia nos braços do meu pai, que cada vez apressava o passo. A essa altura a chuva já descia violenta. Pingos grossos, vento, e um frio que fazia bater o queixo. Indiferentes àquilo tudo, um par de tamancos azul, cheirando a couro ainda, seguiam pendurados nos pés da minha irmã caçula. Eu, fitava-os misteriosamente e eles, em troca, querendo me dizer alguma coisa, exerciam um poder hipnotizador sobre mim. E eu não conseguia pensar em mais nada. Até o frio tinha ido embora. O medo dos trovões e da escuridão, tronaram-se distantes. A correria aumentava à medida que a chuva se tornava mais grossa, e nessa tentativa de chegar mais rápido em casa, foi que meu pai não vendo com clareza o que tinha à sua frente, tropeçou em alguma pedra e se espatifou no chão. Por sorte não se machucou e nem tampouco minha irmã que estava em seus braços. Por um instante a minha preocupação com ambos, trouxe-me de volta à realidade. Passado o susto, percebi que o par de tamancos estava desfeito. Agora, solitariamente, um só calçado prendia-se ainda que sem vontade, ao pé de minha irmã. Aquilo me causou uma tristeza estranha. Pensava em minha irmã, sem os belos tamancos, mas pensava também no outro pé do calçado, jogado à lama, sozinho. O que isso siginificava em mim? É verdade que pelo caminho vamos perdendo muitas coisas. Outras deixadas, propositadamente, para trás. E nunca sabemos qual delas nos sustenta e qual dos sentimentos nos revela. Os tamancos me apontavam as possíveis perdas, o caminho as vezes solitário, as separações, os rumos seguidos por cada um de nós. Que mesmo distantes, separados, sabe-se lá, em algum lugar ou dimensão. Me mostravam que, invariavelmente, alheios a nossas vontades, somos obrigados a encarar as ausências, a distância, o medo. Tudo isso revelado dentro dos sentimentos mais infantis. Exatamente como agora, pois o que fala em mim é a percepção daquele menino que ainda procura entender o significado de tantas outras coisas.

sábado, 9 de agosto de 2008

Memórias

Quando era pequeno, isso há uns bons 30 e poucos anos atrás, todos nós, meus pais e irmãos, íamos passar a semana santa num pequeno povoado chamado Melancias. Uma pequena vila constituída basicamente por duas famílias: as do Félix e Moura e as do Rolim e Albuquerque. Lá, nos reuníamos sempre! E vinha gente de tudo que era das redondezas. Como uma boa comunidade católica, acontecia além da festa religiosa, com missas e procissões, resas e jejuns, a festa que simboliza a traição de Judas, conhecida como a "Malhação do Judas". No sábado de Aleluia, o Judas, representado por um boneco de pano, era brutalmente espancado, castigo recebido por ter traído Jesus. Só que, durante a semana que antecedia essa farra, costumavam passar pelo povoado os tão esperados e temidos "Caretas". Homens e mulheres que se fantasiavam de monstros, vestidos com palhas de bananeira e máscaras disformes, alguns com enorme chicotes, para açoitar alguém caso quisesse desmascarar e revelar sua identidade. Sim, porque nessa brincadeira, não se sabia a identidade de nenhum deles. Lembro que ficavam tentando adivinhar quem seria o mascarado. E nesse advinha "quem será esse?", sempre aparecia algum engraçadinho querendo arrancar a máscara. E nessa tentativa, na grande maioria frustrada, logo começavam os açoites e correria pela vila. Sim, porque todos os mascarados se juntavam em defesa do companheiro ameaçado em sair do anonimato e o castigo pelo atrevimento era umas belas chicotadas, que aqui pra nós, deveria doer bastante. Pra uns era a mais pura diversão, ainda que levasse uma meia dúzia de chicotadas. Mas para os mais novos como eu, que tremia de medo dos "monstros", ficar em baixo da cama era o lugar mais seguro. Ficavamos ali, eu e mais uma penca de primos, todos a escuta de uma voz, que vinha como um alívio, de que os Caretas tinham ido embora. E era sempre mais de uma leva de mascarados. Durante toda a semana, passavam várias turmas de vários outros povoados, composto por no mínimo uns 10 mascarados. Alguns conhecidos como os mais violentos, mas não menos enfrentados. Uma farra, ainda que ficasse em baixo da cama, acompanhada através da imaginação, guiada pelos chocalhos e falas dos mascarados e pela conversa dos familiares sobre quem seria os atores daquela famosa festa da Malhação do Judas.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Clarice e eu

Quase sempre sem querer, a gente acaba enveredando por um ou outro caminho ou gosto literário. Também é quase sempre sem querer que acabamos conhecendo esse ou aquele escritor, seja ainda na infância, na adolescência ou até mesmo na fase adulta. E aí acontecem as paixões. E essas paixões são inevitáveis! Lembro-me que numa dessas tardes quentes, deitado em uma rede cheio de preguiça e conversando com amigos sobre literatura, cronistas, poetas, um amigo recém chegado da cidade de São Paulo, me apresenta Clarice. Eu, que morava numa pequena cidade do interior nordestino, no sertão paraibano, pouco ou nada sabia sobre sua obra. Cheirando a curiosidades, esse meu amigo agora já meio paulistano, me manda uma edição do livro, "A Descoberta do Mundo". Eu nem sabia por onde começar, tamanha era a ansiedade. Compulsivamente, passava os olhos apressados por suas páginas e lia, ainda que de forma aleatória, trechos e mais trechos de seus textos, tentando desvendar todo aquele mundo clariceano que abriria tantos outros mundos. Era de perder o fôlego! Pausas longas eram feitas para que a respiração voltasse ao normal. Lia e relia. Passava adiante. Volta à primeira página. Era preciso entender, ou não. O mais importante é sentir Clarice. Sentir o cheiro de seus personagens, tocar os sentimentos, os nobres e os mesquinhos, ouvir as vozes ora sufocadas, ora histéricas. Enxergar através da cegueira. É preciso mergulhar em seu próprio oceano e desvendar os mistérios. Clarice parece querer revelar algo em nós, mas reservando sempre uma surpresa. Parece querer dizer, falar, mas numa espécie de mudez que nos incomoda. Parece querer mostrar que num gesto que vacila, podemos compreender o incompreensível. E ai, surpreendentemente, revela-se a sua magia. É como querer entender a mágica apenas com a razão, mas sem prestar atenção no mágico. Clarice, nas suas cronicas, revela-se, revela-me, revela-te. E ao mesmo tempo se faz misteriosa. Nos faz anôninmos e nos torna impenetráveis.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Elba, maravilhosa!

Acabei de acordar. A hora não importa. Cheguei tarde da noite em casa. Melhor dizendo, já passava de uma hora da madrugada. Fui convidado por um amigo a ir no show de Elba Ramalho. Sempre gostei da sua voz e do seu jeito de cantar. Mas ouvir na voz de Elba alguns clássicos da mpb como "Sala de reboco, De volta pro meu aconchego, Toque de fole", entre tantas outras de Luiz Gonzaga e algumas canções composta por Flávio José é um encantamento só! Primeiro, porque sou nordestino e essa poesia da música cantada por ela me faz alcançar as mais tenras lembranças da minha terra, da minha gente. Segundo, porque Elba é uma das poucas cantoras brasileiras que cantou e ainda canta um nordeste forrozeiro, festivo. Ao som da velha e boa sanfona, triângulo e zabumba, fazia e faz o caboclo se espremer em salas de reboco, como diz a canção. Arrastá poeira em terreiros de chão batido, levemente molhados horas antes de começar o forró danado. E nem isso roubava o brilho da festa. Na voz de Elba, podemos sentir esse passado bem perto e podemos até sentir o cheiro da terra molhada e ver o queimar de fogos, como se fossem estrelas dançando no céu de tanta alegria.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A Borboleta

Sete horas. O despertador anuncia um novo dia, ainda que tardiamente. O sol já se levantou. Lá fora, ruídos de carros, ônibus e o movimentar nas ruas dos apressados e ainda meio sonâmbulos. Eu aqui dentro a passos lentos. A rotina se apodera de mim. Pesa em mim. Percebo que é mais um dia de trabalho. Preciso apressar-me. Chuveirada quente me faz despertar. Despertar para uma vida que pulsa em mim. Penso silenciosamente. Me arrasto como um bicho preguiça. Ao sair do banheiro surpreendo-me com uma visita inesperada. Uma borboleta aproveita-se da varanda aberta e silenciosamente e imóvel, fica a bisbilhotar a minha intimidade. Nem me dei conta direito! Volto ao meu ritual. E ela lá, a borboleta, que num colorido entre tons de azul, verde, branco e amarelo, desconcentra-me. Logo eu, que sou tão ritualístico. Mas a borboleta lá, parecendo querer me mostrar que a leveza do ser se constrói a cada amanhecer. Antes cazulo, hoje essa liberdade das horas. E eu aqui, preso à minha própria liberdade.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O início

De início foi surgindo meio que sem vontade, apenas uma curiosidade aguçada tomava conta de mim. Queria escrever, queria um espaço para desenhar em palavras e suspiros às minhas vontades poéticas e as coisas que acontecem. Uma espécie de diário. Mas não só isso. Queria abrir uma janela para ver nascer a prosa, a poesia, a crônica. Sem muita pretensão, não! Só um pouco de liberdade. E nada de me prender a formas literárias. Só queria me sentir meio poeta, leitor de mim mesmo. Escutar narrativas que se agigantam dentro de mim. Vou sair por ai, suspirando palavras que guardam memórias de nós mesmos. Que encerram o nosso dia a dia, talvez o meu, o seu, talvez as coisas e o tempo.