domingo, 23 de novembro de 2008

"Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas"

O som vinha de longe, mais precisamente da Capital do Brasil. "Será só imaginação, será que nada vai acontecer, será que é tudo isso em vão, será que vamos conseguir vencer". Bravo! Era o que gritava em mim por dentro quando escutava as músicas da Legião Urbana pela primeira vez. Parecia que eu estava ali, em forma de poesia, falando das minhas incertezas, angústias, alegrias, dos meus amores platônicos, da política suja, da solidão que assusta e que, ao mesmo tempo, nos fortalece. "Quero ter alguém com quem conversar, alguém que depois não use o que eu disse contra mim, nada mais vai me ferir...". Corri numa loja de discos, sim, porque ainda não existiam CDs, DVDs, e garanti logo o meu vinil. A música unia. Intermediava o diálogo e parecia facilitar os desejos incomunicáveis. "Tenho andado distraído, impaciente e indeciso". Era mágico. Despertava sentidos adormecidos ou desconhecidos. Identificava. Cada um, antes isolado com suas dores, queixas, dúvidas, deixou de ser sozinho, e passa a enxergar-se, de certa forma, no outro que também quer romper o silêncio, falar, gritar. "Que país é esse, que país é esse?", ecoava pelo país afora. Tornou-se um hino. Era a voz que não mais silenciava. Não mais sufocada. O país se conhecia. Se indginava. Mas não era só isso não. Cada um começa a exercer sua liberdade. Antes desconhecida ou violentada. Liberdade em todos os sentidos. "Tire suas mãos de mim, eu não pertenço a você, não é me dominando assim que você vai me convencer". Liberdade que se espalha por todos as salas interiores ou não. "De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver." Música que aproxima os olhares. Onde a paixão se agita. Onde os corpos se encaixam. Onde o beijo se arrasta suave, lento, sem pressa. Onde há dores de cotovelo. Lágrimas. Saudade. "Mas tudo bem, tudo bem, tudo bemm... lá vem, lá vem de novo, acho que estou gostando de alguém e é de ti que não esquecerei". Tudo eternizado, se não na lembrança, na musicalidade dos sentimentos, esses sim, jamais se perderão ao longo do caminho. "Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo, temos todo o tempo do mundo, todos os dias antes de dormir lembro e esqueço como foi o dia".

Um comentário:

Carlos Eduardo disse...

Adorei os textos novos e o visual da página está muito melhor. Valeu!