quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vitrine do passado

Recordar é viver! Essa máxima sempre me deixa inquieto quando começo a vasculhar minhas memórias, vividas ou não, frágeis ou não, puras ou não, inocentes ou não. É que a inocência nem sempre vem acompanhada de flash back. Mas ela existe ou existiu em algum momento de nossas vidas. Falar do passado nem sempre é prazeroso. No entanto, pode ser encarado de forma saudosa, pelo menos. Ainda mais quando esse passado deixou marcas, nostalgia, gostinho de quero mais. Quero declarar aqui mais uma vez, que gosto de falar sobre Cajazeiras, de uma Cajazeiras que vive na memória de muitos. Nesse passeio pela memória e por ruas de um passado não muito distante, começo aqui um roteiro que traduz todo esse sentimento de amor à nossa terra. É fechar os olhos e começar a ver o que o tempo não alcança. É como se fosse uma vitrine, uma vitrine no passado. Nela podemos ver nossas lembranças tão vivas como nós agora. Pra começo de conversa paro em frente a Carlos Center e escuto o trecho de uma música de Paulo Diniz que diz "como vou deixar você se eu te amo" e sinto uma vontade enorme de sentar do lado de fora e ficar apreciando o vai e vem das pessoas, sem pressa, como se eu fosse o dono do tempo. Ah o tempo! Porém vou seguindo o meu roteiro e me sento no banco da praça João Pessoa em frente ao Playboy. Ali, posso ouvir uma canção da época e conversas das mais variadas possíveis. E ver risos descontraídos e gargalhadas cheias de entusiasmos. A praça, a velha praça que outrora serviu de palco de grandes encontros e noites intermináveis, que já rendeu homenagens à Cazuza, Madonna, também abraçou noites de muito frevo e axé music nos dias de carnaval. A praça, que guardo na memória como um cartão postal amarelado cheia de tantos segredos e paixões. Um pouco mais abaixo e passo na Chapéu de Couro pra dançar ao som de Lulu Santos "por que só faço com você (so faço com voce), só quero com você (só quero com você), só gosto com você ê ê, advinha o que?" lá de cima, observo as luzes desenhando silhuetas e vejo beijos apaixonados. Mas não paro por aqui não, sigo meu caminho. Talvez um pulinho até o Pirulito, bar sempre cheio e ponto de encontro mais disputado da cidade. Nascimento traz uma dose, peço! Sentado em baixo de uma grande castanheira sinto o ar puro e vejo o vento açoitar os galhos e folhas das árvores como se fosse para anunciar que a noite será agradável. Logo logo não haverá mais mesas, penso. Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho são os convidados da noite. O público gosta e sempre pede suas músicas que vêm acompanhadas de um martini, de uma dose de montilla, de um campary, uma vodka, ou cervejas geladas. Na outra ponta um pedaço menos disputado. Lua Nua é um barzinho pras pessoas mais, diríamos, descoladas. Lá as músicas de Caetano, Gal, Gil, Chico eram quase hinos. Um noite que antes fervia, proporcionando várias opções, hoje, presa numa vitrine do passado que adormece no silêncio das nossas lembranças. Ah, o tempo!