quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Hora da Estrela

Todo mundo, ou quase todo mundo, sabe que o romance "A Hora da Estrela", é uma das obras notáveis de Clarice Lispector. Quem ja leu, reconhece ali, uma pérola da nossa literatura, tamanha riqueza de detalhes e "traje" psicológico da personagem Macabéa. "É uma história de uma moça tão pobre que só comia cachorro-quente. Mas a história não é só isso não! É uma história de uma inocência pisada, de uma miséria anônima", revela Clarice. Macabéa, é uma mulher comum, feia, doente, mas que tem um grande sonho, o de ser Marilyn Monroe. Uma história apaixonante. Que deixa gravado na memória falas e imagens indissolúveis no tempo. Falando nisso, me veio em mente umas das cenas de A Hora da Estrela. Macabéa compra um batom vermelho e se tranca no banheiro da firma onde trabalha e se pinta. Há aqui o desejo de ser como as estrelas de cinema. Mas a película é muito mais que isso. O tempo passa e o livro vira filme. Adaptado para o cinema, com a direção de Suzana Amaral, o romance se tansporta para as telas cinematográficas, é bem aceito pela crítica, premiando a atriz, paraibana, Marcélia Cartaxo, com o Urso de Prata no festival de Berlim, na Alemanha. O cinema brasileiro é bom e de qualidade. Também quero dizer que esses dias participei de um seminário aqui em Brasília sobre Cinema e Literaturas, cujo tema central foi a obra de Clarice, mais precisamente, a personagem Macabéa. Entre os convidados estava a cineasta Suzana Amaral. Uma mulher que me lembrou a persongem do filme. Meio franzina, de baixa estatura, aparentemente frágil e que parece guardar em si uma certa inocência, a mesma inocência que se escondia em Macabéa. Sentada à mesa, ela, Suzana, toda silenciosa, observava apenas. Mas de uma coisa eu sei, que ela e Macabéa são bem diferentes. A grande diferença está em uma ser anti-heroína e a outra não. Fazer cinema no Brasil é fazer papel de um herói. E para mim, Suzana é. Pelos motivos que todos nós conhecemos. Eu, sentado na plateia, encantava-me com aquela mulher de voz meio grave, quase rouca, ora sem força, ora estridente quando a boca aproximava-se do microfone. Surpreendia-me diante daquela mulher que crescia à medida que falava. Rompia o silêncio com frases engraçadas e hábeis. Ela foi, aos poucos, tomando conta da sala, preenchendo cada espaço vazio. Se revelando como se quisesse ser uma personagem de Clarice. E era. Era uma personagem ainda em construção, alegrando-sem em seu tempo. Uma mulher que corria pelos anos, contando suas histórias, suas escolhas, sua trajetória como pesquisadora, como cineasta, como mulher. E fez daquele momento, pelo menos para mim, a sua A Hora da Estrela.

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