segunda-feira, 6 de junho de 2011

Eu e o outro

Um friozinho bom e meus passos vão se tornando cada vez mais apressados. A lua alta, silenciosa, me observa em segredo. Eu, porém, a observo como se quisesse alcançar seu mistério. Lanço sobre ela um olhar curioso e me contento com um pensamento que trago das noites de lua clara que iluminva o sertão. Outros tempos. Apresso novamente o passo e o frio se torna mais intenso. A lua imóvel poetisa sem palavras a noite que desce sobre a cidade numa espécie de brinde extra. Sigo minha caminhada entre meus pensamentos e os muitos atletas que perpassam por mim a cada instante. Alguns bem mais apressados, outros, lentos, enchendo o peito de ar e esvaziando em forma de prece. Meu pescoço dói, paro e alongo minha coluna. Estou envelhecendo, penso. Vou enfrente. Começo a observar quem passa. Rostos aliviados. Mas nem todos. Uns com aspecto de dor, insitem em continuar correndo. Meu Deus, digo a mim mesmo. Entre tantos que observei, um me chamou mais a atenção. Um senhor, já com seus quase 70 anos talvez, caminhava lentamente. Silencioso. Olhar para o nada. A sua solidão se mostrou generosa e eu pude ali dividir com ele a minha. Me via nele. Fui gradativamente ajustando os meus passos para caber no seu mundo. Olhava pra ele quase implorando um sinal, um olhar de volta, um gesto. Ele seguia como se não se importasse. Me senti filho. Me senti seguro. Queria que ele soubesse. Fiquei imaginando como seria a sua vida. Ele, porém, inviolável. Tinha traços de alegrias, percebi. Será que tinha alguém esperando ele em casa? Filhos, netos, esposa. Tentei decifrar algo mais a seu respeito. Nada. Com seus passos firmes, retos, não parecia ter pressa e mantinha-se indiferente a tudo ao seu redor. Nem uma tosse, um suspiro, uma demosntração de cansaço. O seu mundo era só seu. A lua ainda mantinha-se no nosso horizonte, meio baixa, meio torta, mas lá, assim como os segredos de cada um que por ali passava. A noite se tornava mais densa e mais fria e começava a se distanciar, a crescer na escuridão como o nosso silêncio, que crescia à medida que a gente ia se afastando para que cada um mantivesse a sua vida em segredo. Nada mais.

2 comentários:

Cristina Moura disse...

Zaca, seu texto tem um sabor de mistério. Torço para um dia você dar continuidade, em forma de livro. bjs

Imóvel para veraneio disse...

BELO ZACA... saudades dos seus contos.